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ENTREVISTA

 

ANTÔNIO GILBERTO KORNALEWSKI: UMA HISTÓRIA DE SUCESSO!

 

por Roger Tavares

 

      Entrevistei no começo do mês de fevereiro, na sua residência, o professor Antônio Gilberto Kornalewski, ou simplesmente professor Gilberto.

Gilberto nasceu em 06 de junho de 1957 no município de Camaquã/RS. Filho de Estanislau e Teofila, ele tinha mais oito irmãos. Todos residiam no interior do município, cerca de 30 km da cidade.

Aos três anos de idade, perdeu cerca de 95% da visão devido a uma catarata congênita.

Começou a estudar como ouvinte numa escola municipal perto de sua casa. Em 1969, foi para a capital gaúcha estudar no Instituto Santa Luzia. Lá no regime de internato ele fez todo o ensino fundamental, onde aprendia a escrever em Braille, fazia AVD (atividades da vida diária), música, datilografia (em máquina comum), locomoção e mobilidade, entre outras.

Em 1975, foi estudar no Colégio Júlio de Castilhos, também na capital, onde iniciou o 2º grau com a terminalidade de instrumentista musical. Permaneceu lá por um ano.

No ano seguinte estudou processamento de dados (específico para deficientes).

Em 1977, fez o supletivo do ‘2º grau’, onde fazia as provas em Braille ou fitas cassete. Alguns anos depois fez o vestibular para Letras na PUC de Porto Alegre, onde se formou em 1983. Como havia conseguido um contrato para lecionar no distrito de Chuvisca (hoje município de mesmo nome) em 1980, Gilberto fazia constantes viagens semanais entre a capital e o interior.

Logo depois começou a lecionar Língua Portuguesa e Ensino Religioso.

 

gilberto e familia

A esposa Heliete, a filha Maria Gabriela e o professor Gilberto

 

 

Em 1988, fez concurso para área 2 e 3.

Tem pós-graduação em Supervisão-Administração Escolar e Educação Especial.

O professor Gilberto leciona na Escola Alaídes Schumacher Pinheiro no município de Chuvisca/RS, onde reside com sua esposa Heliete, também professora, e sua filha de 16 anos, Maria Gabriela.

 

“O importante não é ser um entre muitos; mas entre muitos, alguém.”

 

Lá, ele já foi vice-diretor dessa escola, 1º suplente de vereador, 1º secretário de educação do município, assessor de planejamento pedagógico da secretaria de educação e assessor de imprensa da prefeitura.

O professor sempre foi um grande exemplo de superação e força de vontade. Mesmo tendo a deficiência visual desde os três anos de idade, nunca se deixou abater pelas dificuldades e nunca achou que era ‘fraco’ e não poderia conquistar seu espaço. Bem pelo contrário! Gilberto sempre foi atuante na sociedade, quer apresentando concursos em bailes, ajudando na emancipação do então distrito de Chuvisca, quer lutando pela melhoria do ensino e capacitação dos professores.

 

“Ânimo na derrota, humildade na vitória.”

 

Gremista de coração, o professor adora ouvir rádio e tem na internet algo muito prazeroso, onde navega e faz seus trabalhos através dos programas Dosvox e Virtual Vision (que o ajudam como leitor de tela). Gosta de ler a Bíblia e a literatura clássica, bem como os autores Jorge Amado, Érico Veríssimo, Luis Fernando Veríssimo, Rubem Braga, Millôr Fernandes, etc. Na poesia, prefere Mario Quintana e Mario de Andrade. Gosta de ouvir a revista Veja, que recebe toda a semana em CD.

 

       Em 2007, o professor Gilberto ficou sabendo, através do site da revista Sentidos, do I Prêmio Sentidos (realização em parceria com a Rede Record de Televisão). Ele se inscreveu na categoria Gente como a gente e mandou sua história de vida.

Acabou indo até São Paulo, em 24 de setembro, e abrilhantou a noite de premiação, acompanhado da filha Maria Gabriela. Subiu ao palco em conjunto com o paulista Gustavo de Castro Pimenta e a potiguar Débora Seabra de Moura, os outros dois finalistas da categoria. Três vencedores, antes de mesmo de saberem a colocação que ficaram, porque superaram inúmeras barreiras e se fizeram incluir social e profissionalmente. Kornalewski foi o segundo colocado.

 

 
gilberto e dudu
        Dudu Braga e o professor Gilberto em SP, durante a premiação
 
 

Gilberto comenta que falta ainda muita coisa em Braille, mas a chegada do livro digital ajudou muito o deficiente visual. Ele lembra que na faculdade os colegas gravavam livros para ele ouvir:

 

"Enfrentei muitas dificuldades no curso porque não tinha acesso a todas as obras que precisávamos ler. Muitos colegas me ajudaram fazendo a leitura dos livros e gravando seu conteúdo para que eu pudesse acompanhar as aulas e também utilizei os recursos da audioteca de Porto Alegre.”

 

Os projetos futuros do professor têm a ver com educação: continuar a ajudar no laboratório de informática na escola onde leciona e solidificar a classe especial em outra escola municipal, onde também leciona. Tem um projeto a longo prazo: escrever um livro contando a sua história de vida.

 

“Minhas aulas são mais expositivas e o aluno acompanha pelo impresso que forneço. Além disso, incentivo muito a participação de todos para poder saber onde melhor auxiliar em suas dificuldades. Minhas aulas são muito interativas. E não imagine que só porque sou cego, as turmas, formadas por adolescentes, são mais cooperativas! Isso não acontece. Mas, hoje, os avanços tecnológicos e os computadores com leitores de tela me ajudam muito.”

 

 

gilberto e dorina
   Sra. Dorina Nowill e prof. Gilberto também em SP
 
 
 

Colegas de profissão, falam do amigo e trabalhador de educação:

 

      “Conviver com o colega/professor Antônio Gilberto é muito gratificante, pois é um ser humano maravilhoso, carismático, inteligente, cheio de otimismo, de muita fé em Deus, enfim, um exemplo de vida para qualquer pessoa.

     Mesmo sendo deficiente visual, consegue superar a deficiência e ser modelo para todos os colegas, incentivando-os e dando-lhes forças e conselhos nos momentos de dificuldades.  Para mim, é um grande colega e um ótimo amigo.” Maria Gorety Wolowski Ribeiro, professora

 

 

"Ele é colega, amigo e inteligente. Cristão, é fiel e companheiro. Gosta de estudar, é atencioso e amoroso. Um grande trabalhador, empreendedor e muito comunicativo. Palavras não conseguem revelar tudo que o coração da gente sente." Julia da Silva Tavares, professora

 

 

"É uma pessoa dinâmica, que faz da sua adversidade um caminho para a superação e  para várias conquistas. É uma pessoa extremamente exigente consigo, quase um perfeccionista." Clair Elisete Venske Lysakowski, secretária de educação de Chuvisca/RS

 

 

 

O professor está disponível para dar palestras sobre o método Braille e inclusão social.

Contato através do email: gilberto@camaquanet.com.br

 

 

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