POESIA
LITERATURA
Estado pode perder acervo de Erico
Família Verissimo estuda transferir legado para o Rio
O acervo literário do maior escritor do Rio Grande do Sul pode fazer o que seu autor nunca fez: mudar para o centro do país. A família Verissimo trata com o Instituto Moreira Salles (IMS) para que o acervo de Erico seja transferido à sede do instituto na Gávea, no Rio de Janeiro.
O acervo literário de Erico Verissimo (1905 – 1975) constitui-se de originais manuscritos e datilografados do autor, correspondências, artigos e anotações – abundantes, dado que Erico tinha um método bastante minucioso para a construção de seus romances, o que incluía vez por outra desenhar personagens e cenários. Criado em 1982 por iniciativa da viúva do escritor, Mafalda Volpe Verissimo, e organizado pelas professoras e pesquisadoras Maria da Glória Bordini e Regina Zilberman, o acervo esteve até 2007 hospedado na PUCRS, como parte do conjunto de documentos que hoje atende pelo nome de Centro de Documentação e Memória Cultural Delfos. A família Verissimo solicitou a devolução do material de Erico depois que Regina e Maria da Glória foram afastadas da universidade, no fim de 2006. Nos bastidores, circula a informação de que a família fora solidária às professoras.
– A família nos pediu a documentação de volta e nós entregamos o mais rapidamente possível, é só o que sei – diz o escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, coordenador do Delfos.
Desde então, o acervo de Erico está guardado na lendária residência da família, na Felipe de Oliveira. Os primeiros contatos com o Instituto Moreira Salles – uma das entidades culturais mais importantes do Brasil, administradora de cinemas, galerias e reservas técnicas de fotografia e música –, começaram quando o superintendente era o poeta Antonio Fernando di Franceschi, que coordenou um volume dos Cadernos de Literatura Brasileira do IMS dedicado a Erico em 2005. O diálogo entre a família e o instituto pretende criar na sede mais recente da entidade, no Rio, um centro de documentação e pesquisa.
– Não temos aqui em casa as condições para consulta. A ideia é disponibilizar o material para pesquisadores, algo que as atuais acomodações dificultam – explica Fernanda Verissimo, neta do escritor e filha de Luis Fernando Verissimo.
Fernanda faz questão de informar que, embora as negociações com o Instituto Moreira Salles estejam indo bem, ainda não há nada acertado em contrato:
– Estamos em tratativas, não tem nada estabelecido.
A assessoria de imprensa do IMS confirmou o interesse de levar a documentação, mas não deu mais detalhes porque tudo depende de novas reuniões entre a entidade e a família.
Mesmo que o IMS não divulgue detalhes, as negociações preveem que o instituto se torne o guardião e administrador do acervo – o que já acontecia quando a documentação estava na PUCRS e estava aberta a consultas de especialistas que elaboravam dissertações, teses e artigos sobre a obra de Erico. A mudança de casa tem uma ressonância simbólica muito forte, porque representa que o Rio Grande do Sul não conseguiu manter em seu solo os originais do autor que traçou literariamente o imaginário do Estado (em uma obra de ressonâncias poderosas que hoje é editada por uma casa de proporções nacionais, a Companhia das Letras). Na prática, porém, de acordo com Fernanda Verissimo, a medida não vai dificultar o desenvolvimento de pesquisas sobre Erico, e sim o contrário.
– Atualmente o maior número de pesquisadores a procurar o acervo para consultas vem de fora do Rio Grande do Sul.
O que também não deixa lá de ser simbólico.
Os documentos
> O Acervo Literário Erico Verissimo contém mais de 10 mil documentos, que englobam originais, discursos, artigos, correspondências.
> Há documentos que remetem à passagem de Erico pela direção da Editora Globo, em uma fase que transformou a editora em referência nacional e apresentou ao público brasileiro autores estrangeiros, como Somerset Maugham e Graham Greene.
> Há também livros anotados da biblioteca pessoal de Erico, um grande acervo fotográfico e muitos desenhos de próprio punho do autor. O material é tão vasto que já rendeu mais de uma exposição temática.
Fonte: CARLOS ANDRÉ MOREIRA – Zero Hora