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POESIA

 
FLORBELA ESPANCA: DO AMOR E DA TRISTEZA
 
        Oito de dezembro de 1894. Nasce em Vila Viçosa (Alentejo), na Rua do Angerino, Florbela d'Alma da Conceição Espanca, em casa de sua mãe, Antônica da Conceição Lobo. O pai, o republicano João Maria Espanca, que era casado com outra mulher, Mariana do Carmo Ingleza, curiosamente fará da esposa a madrinha de batismo da filha. Nos registros da Igreja Nossa Senhora da Conceição de vila Viçosa consta Florbela como "filha ilegítima de pai incógnito". O mesmo acontecendo com seu único irmão, Apeles, nascido em 10 de março de 1897. Em 1899 Florbela já freqüenta o curso primário. Data de 11 de novembro de 1903 o poema A vida e a morte – ao que tudo indica o primeiro de sua autoria. Ingressa, em 1908, no Liceu de Évora, onde permanecerá até 1912. No dia de seu aniversário no ano de 1913, Florbela casa-se, no Registro Civil de Vila Viçosa, com Alberto de Jesus Silva Moutinho que havia sido seu colega de classe desde o curso primário. Em abril de 1916, seleciona, dentre a sua produção poética, cerca de 30 peças produzidas a partir de maio de 1915, com as quais inaugura o projeto Trocando Olhares. Em outubro de 1916, desde setembro vivendo em Lisboa e financiada pelo pai, matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que abandonará em meados de 1920: dentre os 347 alunos inscritos, apenas 14 são mulheres. Em junho de 1919 faz publicar o Livro de Mágoas, com as dedicatórias: "A meu pai. Ao meu melhor amigo." e "À querida Alma irmã da minha. Ao meu irmão." Logo depois começa a trabalhar em novo projeto Livro de Soror Saudade, publicado em 1923. No dia 30 de abril de 1921 é assinado o divórcio de Florbela e Moutinho. Dois meses depois se casa com o alferes de artilharia da Guarda Republicana, Antônio José Marques Guimarães. Em 1925 divorcia-se de Antônio Guimarães. Ainda em 1925, em Matosinhos, Florbela casa-se com Mário Pereira Lage, médico. Em 1930, com poemas e contos, inicia a colaboração na recém-fundada revista Portugal Feminino, na Civilização e no Primeiro de Janeiro. Em seu Diário do Último Ano, Florbela expressa o estado de solidão em que se vê mergulhada: "O olhar dum bicho comove-me mais profundamente que um olhar humano... Num grande esforço de compreensão, debruço-me, mergulho os meus olhos nos olhos do meu cão... Ah, ter quatro patas e compreender a súplica humilde, a angustiosa ansiedade daquele olhar!..." E não há de ser por acaso que Florbela se faz acompanhar de tal imagem durante esse derradeiro percurso: não é o cão mitológico o guardião da morte?Em 2 de dezembro de 1930, encerra-se o seu Diário com a seguinte frase: "e não haver gestos novos nem palavras novas!" Cinco dias depois, no dia de seu aniversário, Florbela d'Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo uma dose excessiva de Veronal.
 
Biografia tirada da "Coleção a Obra-prima de cada autor", Sonetos - Florbela Espanca (texto integral), Martin Claret editora.

 

CASTELÃ DA TRISTEZA


Altiva e couraçada de desdém,

Vivo sozinha em meu castelo: a Dor!
 
Passa por ele a luz de todo o amor...

E nunca em meu castelo entrou alguém!



Castelã da Tristeza, vês?... A quem? ...

-- E o meu olhar é interrogador --

Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr...

Chora o silêncio... nada...ninguém vem...



Castelã da Tristeza, porque choras

Lendo, toda de branco, um livro de horas,

À sombra rendilhada dos vitrais?...


 
À noite, debruçada, plas ameias,
 
Porque rezas baixinho? ... Porque anseias?...
 
Que sonho afagam tuas mãos reais?









 

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