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POESIA

 

A POESIA DE GREGÓRIO DE MATOS GUERRA

Por Cristiana Gomes

“Eu sou aquele, que passados anos
cantei na minha lira maldizente
torpezas do Brasil, vícios, e enganos”

Esse era Gregório de Matos Guerra, o “Boca do Inferno”. Com seu espírito crítico, satirizava políticos, comerciantes, clero, colonizadores e até mesmo o povo. Para isso, usava palavrões e um vocabulário bem baixo em suas obras.

Nasceu supostamente em 7 de abril de 1633 na Bahia e morreu em Recife em 1696. Veio de uma família rica que possuía dois engenhos de cana-de-açúcar e 130 escravos.

Educou-se em casa e no colégio jesuíta. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra e lá exerceu a profissão sendo, inclusive, juiz de órfãos.

Em 1681, quando voltou para o Brasil, foi vigário-geral e tesoureiro-mor, porém, durante este período recusou-se a usar a batina e denunciou injustiças da Ordem em que servia. Por causa disso, o Bispo ordenou seu afastamento.

Escreveu poesia lírica, satírica e religiosa. Suas poesias satíricas possuem um ótimo material do ponto de vista sociológico e lingüístico (já que o autor usava um vocabulário bem popular). Nelas o escritor narra episódios da vida popular, cotidiana e política. Através delas podemos conhecer melhor a sociedade da época (período colonial).

A poesia lírica de Gregório de Matos também é muito boa e pode ser dividida em:

- Poesia lírico-amorosa
- Poesia lírico-filosófica
- Poesia lírico-religiosa

POESIA LÍRICO-AMOROSA
Características

- O amor é retratado como fonte de prazer e sofrimento
- A mulher é retratada como um anjo e fonte de perdição (pois desperta o desejo carnal)

TEXTO

Rompe o Poeta com a Primeira Impaciência Querendo Declarar-se e Temendo Perder Por Ousado

Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, se não em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

Vocabulário
Uniformar: tornar uniforme, com uma só forma
Galharda: elegante

POESIA LÍRICO-RELIGIOSA
Características

- O autor está dividido entre pecado e virtude (sente culpa por pecar e busca a salvação)
- O autor vê o pecado como um erro humano, mas também, como a única forma de Deus cometer o ato do perdão.
- O eu-lírico, muitas vezes, se comporta como advogado que faz a própria defesa diante de Deus (para tal, usava, até mesmo, trechos da Bíblia)

TEXTO

Ao mesmo assunto e na Mesma Ocasião

Pequei Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,

Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória

Vocabulário

Despido: despeço
Sobeja: sobra
Cobrada: recuperada

POESIA LÍRICO-FILOSOFICA
Características

-Pessimismo
-Angústia diante da vida
-Temas abordando o desconcerto do mundo e a instabilidade dos bens materiais

TEXTO

Moraliza o Poeta nos Ocidentes do Sol a Inconstância dos Bens do Mundo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Vocabulário:
Pena: dor, sofrimento

Gregório de Matos foi o maior nome do Barroco brasileiro. Casou-se e pouco tempo depois abandonou a mulher e a carreira de advogado para ser repentista no Recôncavo Baiano.

Em uma de suas sátiras ofendeu o governador da Bahia – Antonio Luis da Câmara Coutinho – e foi preso e exilado para Angola. Teve autorização para voltar para o país (mas não para a Bahia), foi para Recife e morreu em 1696.

A obra de Gregório de Matos foi publicada pela Academia Brasileira de Letras cerca de 230 anos depois da sua morte. Por causa disso, muitos de seus poemas se perderam e muitos textos que levam o seu nome são de autoria duvidosa, já que Gregório de Matos teve muito imitadores anônimos.

(Fonte: www.infoescola.com)

 

 

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