LIVRO DA SEMANA
Almanaque reúne informações úteis e curiosidades de Machado de Assis |
(Leandro Souto Maior, JB Online)
RIO - Nunca é demais ler e falar de Machado de Assis. Em 2008, quando se completam 100 anos de sua morte, programas na TV, nas rádios, jornais, sites e lançamentos literários destacam e celebram o (carinhosamente chamado de) 'Bruxo do Cosme Velho'. Um dos livros mais interessantes, e que acaba de ser lançado, é dedicado principalmente aos inciantes - mas também de alto interesse para os iniciados -, e trata-se de um guia para sua obra e sobre boas formas de consumi-la.
Almanaque Machado de Assis (Editora Record) é um livro feito para atrair pessoas para ler Machado, ou para aquela pessoa que leu algo e quer ler mais, ou ainda pra quem vai ficar ouvindo falar de Machado esse ano e vai ficar curioso sobre quem ele foi e o que fez.
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O lançamento não pretende ser uma biografia, mas uma reunião de informações úteis, curiosidades e comentários sobre nosso maior escritor, resultado de mais de 20 anos de paixão, pesquisa e de uma vivência de leitura do escritor Luiz Antonio Aguiar, mestre em Literatura Brasileira pela PUC-RJ.
- Existe pouco material sobre Machado. Ele era bastante recluso, tinha um grande zelo por sua privacidade e não se sabe muito de sua vida. Há ainda o que ser revelado. Não se sabe, por exemplo, como ele apareceu com 17 anos sabendo francês e inglês - conta o autor, que se diz preocupado em estímular o gosto pela leitura.
- Precisamos popularizar Machado de Assis, que deve e pode ser muito mais lido do que é! O clássico é algo que, por definição, está longe de nós, só que com ele isso não aconteceu. Com Machado é diferente, e isso tem grandes vantagens: ele escreveu querendo ser lido, buscava o tempo todo ser lido. Oswald de Andrade, por exemplo, dizia 'a massa ainda vai comer o biscoito fino que fabrico'! Machado não, ele queria convidar as pessoas para lê-lo. Ele tinha essa vaidade de ser muito lido em seu tempo. Veja como seu contemporâneo Eça de Queiroz é mais difícil. Machado não faz firulas para esconder os significados - compara.
- Ele é nosso 'Pelé' da literatura! Um cara humilde, que tinha tudo para não dar certo e conseguiu a glória. Não riqueza, mas imortaildade e respeito, graças à literatura. Machado tem essa capacidade de se ligar ao povo brasileiro. As pessoas querem ser o craque Ronaldinho um dia... quem sabe, através do contato com a obra de Machado, queiram um dia ser alguém como o escritor. Ele escreveu na nossa língua, e é nosso único clássico reconhecido internacionalmente como um dos gênios da literatura!
É possível imaginar como seria Machado de Assis se estivesse vivo hoje em dia?
- Acho que é possível imaginar essa hipótese sim, quando se lê um Luiz Fernando Verissimo, por exemplo, que eu acho que é quem melhor pegou a ironia fina do Machado. Seria talvez a mistura do Veríssimo com o Miltom Hatoum. Inclusive, ambos são leitores aficicionados por Machado - responde o autor.
Como o novo lançamento revela logo em sua primeiras linhas, a palavra 'almanaque' vem do árabe: al-manãk, que quer dizer "lugar onde o camelo se ajoelha". Talvez um oásis, onde as pessoas paravam para descansar e contar e escutar histórias. E este "Almanaque Machado de Assis" é bem isso. Além de uma breve biografia, traz também sugestões de leitura e dados interessantes sobre a época e o Rio de Janeiro em que ele viveu, com fotos e ilustrações.
- Eu levei o projeto para a editora. Disse: "vai ter o centenário de Machado, gostaria de reunir tudo isso em um Almanaque, daqueles com frases e um 'quem é quem' dos personagens dos contos e romances". É como mapa da sua obra - conta Luiz Antonio Aguiar.
- O Almanaque é um sonho! Tem esse lance do ideal. Faz bem para a gente ler Machado, como seres humanos e por sermos brasileiros. Ele é muito mais enaltecido do que lido, e se a gente começar a ler Machado, a gente não para! Vamos ler Machado! - convida.
Lançamento: Almanaque Machado de Assis (Editora Record), de Luiz Antonio Aguiar. 320 páginas. Preço: R$ 50.