LIVRO DA SEMANA
Memória poética
Luiz de Miranda lança o livro “Monolítico”, que combina verdade e ficção
Com 64 anos incompletos, Luiz de Miranda conta que já foi ator, jornalista, guerrilheiro e “secretário da noite” – título concedido por seu companheiro de boemia Lupicínio Rodrigues. É como poeta, contudo, que ele recupera os acidentes dessa vida agitada no livro Monolítico: Memória que Não Morre, sua mais recente obra, que tem sessão de autógrafos marcada para hoje.
Miranda faz de Monolítico um único poema, dividido em 251 cantos. Apesar da solidez insinuada no título, o material poético é disperso, impreciso, como a própria memória que é o tema do livro.
– Diferentemente do meu livro anterior, Nunca Mais Seremos os Mesmos, que foi apontado como autobiográfico, embora eu não tivesse a intenção de que fosse, neste desde o início eu me propus a escrever um livro de memórias – diz o poeta.
Nos cantos de Monolítico, Miranda repassa, em versos, elementos desconexos de memória e ficção. Como em livros anteriores, há um retorno obsessivo, por vezes excessivo, de elementos temáticos recorrentes. São imagens sobre o pampa, nomeado indiscriminadamente no masculino e no feminino (o meu nome se escreve na planura / onde o verde desenha a paisagem), Deus (O ouvido de Deus mora no mar / quando batem seus sinos renascemos), o mar (o mar navega tudo o que encontra), o transcorrer do tempo (os meses dobram os calendários na ampulheta) e a poesia vista ao mesmo tempo como vocação e entidade antropomórfica a quem o poeta se doa (da pampa, // onde nasci, / onde cresci / para o tesouro da Poesia). Ressaltando a característica de matéria informe do conjunto, no centro do poema há espaço para homenagens a poetas presentes na formação de Miranda como leitor e a personagens reais de Porto Alegre, como jornalistas, radialistas, artistas plásticos e até o dirigente Fernando Carvalho, do Inter.
Depois da publicação, em 2005, de Nunca Mais Seremos os Mesmos, ele já preparou, além de Monolítico, outros quatro livros. Todos com a estrutura de um único poema em cantos. O autor não é adepto da concisão. Para ele, o poema deve se expandir como um organismo – ou fluir como matéria líquida.
– O poema é um rio de imagens. O poeta não é um prosador, ele não conta, ele canta, tem de ser imagístico. O meu verso tem uma cadência rítmica de música de rimas internas e externas.
CARLOS ANDRÉ MOREIRA - ZERO HORA