LIVRO DA SEMANA
Saramago pós-posts
Chega ao Brasil “O Caderno”, livro com textos que o escritor português postou em seu blog
– Sou como um elefante numa loja de louças: não sigo pauta, nem roteiros.
Desde setembro do ano passado, o escritor português José Saramago é um ilustre “elefante” que circula com desenvoltura pela rede mundial de comunicação. Na função de blogueiro, ele abastece sua página na internet (www.josesaramago.org) com certa regularidade, tratando desde temas particulares (sua passagem por São Paulo, no ano passado) até os aguerridos, como suas críticas à atuação do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi.
Aliás, os ácidos comentários (“Na terra da Máfia e da Camorra, que importância poderá ter o fato provado de que o primeiro-ministro seja um delinquente?”) impediram a publicação, na Itália, do livro O Caderno, lançado agora no Brasil pela Companhia das Letras (224 páginas, R$ 45).
Trata-se de uma seleção de textos que Saramago postou entre setembro de 2008 e março deste ano. Na introdução, o escritor lembra-se de quando os cunhados lhe ofereceram um caderno, em 1993, no qual deveria registrar seus dias na nova moradia, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Saramago jamais rascunhou uma letra ali, mas se inspirou para escrever Cadernos de Lanzarote, publicado cinco anos depois.
No ano passado, com seu site já no ar, o escritor foi incitado a repetir a experiência no formato de blog. Ainda que convalescente de uma doença que quase o levou à morte, Saramago aceitou a empreitada. Na verdade, empolgou-se a tal ponto que, quando sua mulher Pilar pediu para diminuir a quantidade de posts a fim de descansar nas férias, ele ficou triste, acreditando que Pilar não estivesse gostando de seus comentários. Afinal, ali era seu novo campo de batalha, no qual acariciou amigos (Jorge Amado, Carlos Fuentes, Chico Buarque) e também cutucou políticos, como no texto Sarkozy, o Irresponsável e naquele contra Berlusconi que, dono da Einaudi, justamente a editora que publica a obra do escritor na Itália, proibiu o lançamento de O Caderno em italiano.
Fonte: Ubiratan Brasil (Agência Estado) para Zero Hora