LIVRO DA SEMANA
"NOTURNO"
"Pense num homem de capa preta. Com caninos grandes. E um sotaque engraçado", diz, numa cela de Nova York, em 2010, um velho que durante a Segunda Guerra teve a mão esmigalhada por um vampiro. "Agora esqueça a capa, os caninos e o sotaque engraçado. Esqueça tudo o que é engraçado."
Dadas as variações de tramas vampirescas que têm rondado telas e livrarias, a sugestão soa promissora. Ela é feita por um personagem de "Noturno", primeiro romance em parceria do cineasta Guillermo del Toro e do autor de thrillers Chuck Hogan, e dá pista de que não haverá ali nada do que livros do gênero costumam mostrar.
Primeira parte de uma trilogia imaginada em 2005 por Del Toro, "Noturno" saiu há dois meses nos EUA, onde frequentou listas de mais vendidos, e chega agora ao Brasil em meio a uma "epidemia" indesejada.
"Nosso livro fica longe desses outros, como você notou, como qualquer um nota, e me sinto ótimo com isso", diz Hogan, um dos autores. "Devolvemos os seres ao seu lugar de quem dorme na poeira, é sujo e muito, muito perigoso".
Em texto para o "New York Times", Del Toro e Hogan explicam sua versão da história. Contam que, quando John William Polidori juntou "folclore, ressentimento e ansiedades eróticas" em "O Vampiro", no século 19, criou a base de todas as tramas do gênero. Mas o mito no qual ele se baseou, escrevem, era "tão velho quanto a Babilônia". E "tratava de bestas primitivas que se alimentavam do sangue dos vivos".
RAQUEL COZER
da Folha de S.Paulo