LIVRO DA SEMANA
LITERATURA
VERMELHO AMARGO
O escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós já ganhou vários prêmios com seus livros infantis - entre eles o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, o Prêmio Jabuti, e o Selo de Ouro, da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil -, mas sua experiência com a prosa adulta é mais escassa.
Em seu novo livro, Vermelho Amargo, Queirós trata da infância de um garoto no interior patriarcal do Brasil, a ausência da mãe e mergulhado em solidão. O livro é tecido de pequenos retalhos de uma infância sombria e pequenas e dolorosas descobertas.
Leia um trecho do livro.
"Minha irmã maior gostava de agulhas. Meu primeiro irmão mastigava vidro. Uma brisa morna morava na ponta dos dedos da quase moça. Ela trespassava na agulha uma linha, de azul profundo, e bordava. Tecia paisagens com ponto de cruz, miúdos, mas tão miúdos, que ficava difícil acreditar que não eram mares as águas que ela crucificava. Não erguia a cabeça quase nunca. Vivia curvada sobre os panos, construindo suas cruzes sobre um desconhecido calvário. Na testa trazia uma cicatriz enviesada. Os olhos exigiram lentes grossas para desanuviar o mundo. Ao brincar com sua boneca de celuloide, trancada no banheiro - escondendo-se do pai - caiu e levou muitos pontos. O medo bordou sua fronte com pontos de dor."
Vermelho Amargo,
de Bartolomeu campos de Queirós.
CosacNaify, 75 págs., R$ 39.
(Fonte: revista BRAVO!)