LIVRO DA SEMANA
Todos às armas
Livro reúne historiadores e especialistas analisa os
conflitos armados no Rio Grande do Sul, separa história e mito
e mostra a consolidação de um povo
Na guerra, na paz e entre os guerreiros do Sul
por
CARLOS ANDRÉ MOREIRA
Parece paradoxal, mas em um Estado que glorifica uma guerra como seu mito fundador mais caro e vende um passado guerreiro como forja idealizada do caráter coletivo, escreveu-se comparativamente pouco sobre história bélica propriamente dita – e muito do que se tem disponível mais se assemelha à hagiografia de nobres heróis do que a um trabalho histórico sério. Some-se a isso a onipresença da Guerra dos Farrapos nas interpretações do passado rio-grandense, ofuscando outros conflitos. O resultado é que em uma das unidades da federação mais assolada por lutas entre facções armadas – um fato que já extrapolou a história e encostou no mito – conhece-se pouco, ainda, sobre o desenrolar desses conflitos e o impacto que eles tiveram na formação da sociedade de seu tempo. O livro As Guerras dos Gaúchos: Histórias dos Conflitos do Rio Grande do Sul é uma contribuição valiosa para alterar esse estado de coisas.
Organizada pelo professor e historiador Gunter Axt e com coordenação editorial de Marília Ryff-Moreira Vianna, As Guerras dos Gaúchos (Nova Prova, 524 páginas, R$ 136) é uma obra coletiva que traz 24 artigos escritos por 23 historiadores e intelectuais esmiuçando as raízes, o desenvolvimento e o impacto que tiveram na sociedade do Rio Grande 24 conflitos armados. Embora o título traga a palavra “guerras”, estão incluídos no livro desde guerras no sentido clássico, de estados se defrontando em um conflito armado depois de uma declaração formal – como no caso da Guerra do Paraguai –, até desastrosas repressões armadas do Estado a elementos considerados insubordinados no próprio território, como o massacre dos Mucker, em 1874. Passando por escaramuças entre colonos espanhóis e portugueses pela posse do Sacramento, pela dizimação das missões jesuíticas e pelas guerras entre facções internas políticas e ideológicas no próprio Rio Grande, como a onipresente a Revolução Federalista ou as de 1923 e 1924. Com espaço mesmo para conflitos não travados em solo rio-grandense, como a revolta paulista de 1932 contra o governo do gaúcho Getúlio Vargas.
(fonte: Zero Hora)