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A biblioteca da vida inteira

Ele acumulou mais de 180 mil livros em 70 anos de vida. Seduzido pela ideia de ajudar o projeto Banco de Livros, da Fiergs, a atingir a marca de 500 mil volumes a serem destinados à formação de bibliotecas para leitores carentes, o poeta e colecionador Itálico Marcon decidiu doar seu acervo, que ocupava três apartamentos em Porto Alegre

     Recostado numa poltrona da sala de visitas de seu apartamento, Itálico Marcon, 70 anos, acaricia com a ponta dos dedos a cachorrinha Yorkshire Pity, sentada sobre as patas traseiras em seu colo. A temperatura da tarde de segunda-feira na Capital é amena – em torno de 25ºC –, e os vidros fechados das janelas ajudam a isolar o ruído do trânsito da Avenida Independência, a uma quadra de distância. Marcon fala devagar, com a voz levemente ofegante, do tipo que em alguns idosos sugere memória frágil. O raciocínio, porém, é rápido e certeiro. O dono da casa fala de uma de suas paixões, os livros, com entusiasmo de adolescente. O adolescente que, aos 14 anos, comprou em Coronel Pilar – então distrito de Garibaldi – o primeiro volume de uma biblioteca que haveria de ter 180 mil tomos.

     – Eram as Poesias Completas, de Casemiro de Abreu. Era um livro lírico, amoroso, de saudade – recorda.

     Marcon é procurador de Justiça aposentado, poeta, crítico literário e ensaísta. É também bibliófilo, um dos maiores do país. Sua biblioteca, que ocupava três apartamentos de três quartos no prédio onde vive, acaba de ser doada ao projeto Banco de Livros, uma iniciativa da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) destinada a reunir 500 mil volumes para montagem de acervos em comunidades carentes.

     Marcon já era um leitor contumaz quando adquiriu o primeiro livro. Lia de tudo – especialmente poesia, mas também romances, ensaios, enciclopédias. Na mesma época em que comprou Poesias Completas, procurou Henrique Dalmás, diretor da Rádio Difusora de Garibaldi, de propriedade de religiosos capuchinhos, e se propôs a apresentar um programa sobre livros e música clássica. Nunca havia trabalhado em rádio, mas o programa, animado por sua paixão pela leitura e pela audição, permaneceu no ar por cinco anos.

     Era cobra criada. Pouco depois de se casarem, em 1923, os pais, Pietro e Lucia Ignez, emigraram de Santa Lucia del Piave, no Vêneto, norte da Itália. Seu sonho era fare la America. Nascido em 1900, Pietro foi seduzido pelas histórias de um tio que se fixara no Rio Grande do Sul e relatara aos parentes o admirável mundo novo disponível abaixo do trópico. Pietro era carpinteiro e escultor de madeira e tinha o espírito aventureiro que faltava a Lucia Ignez, 26 dias mais velha e oriunda de família rica.

     – Eles foram morar no meio do mato no interior de Garibaldi. À noite, minha mãe ouvia, apavorada, o rugido das onças – lembra Marcon.

     Lucia Ignez nunca se recuperou do choque inicial na terra escolhida pelo marido. Sofria de uma irremediável saudade da Itália, que só reviu com Pietro uma vez, em 1974. Os dois jamais requereram cidadania brasileira. Em casa, falavam em dialeto vêneto e italiano. Pouco depois do nascimento do primeiro dos nove filhos, Gabriel, Lucia Ignez contraiu meningite. Os percalços não diminuíam seu amor pela prole, que supervisionava e alimentava com a dieta substanciosa dos imigrantes – polenta, massa, ovos, galeto e, para ela e Pietro, um copo de vinho tinto no almoço. O filho a define em três traços:

     – Tristeza, bondade e amor.

     A melancolia da mãe era compensada pela energia do pai. Pietro construiu com as próprias mãos a casa de material de dois andares para a qual a família se mudou no distrito de Coronel Pilar. Cultivava um pomar no qual Marcon relata existirem cem qualidades de uvas. Prosperou como carpinteiro, e alguns dos móveis que fabricou – em estilos veneziano, Luís 14 e Luís 15, entre outros – ainda estão em uso. Foi também sacristão e, por 25 anos, agente consular da Itália em Garibaldi. Marcon lembra de vê-lo dirigindo os oito filhos – o nono, Valeriano, morreu ainda bebê – em peças de teatro para amigos e vizinhos.

     – Eram peças de cunho religioso, sobre a tomada de Jerusalém ou a luta contra os mouros – afirma.

     Ligado à família e ao trabalho, Pietro não escondia o carinho especial pelo sétimo filho, talvez por ver em Itálico um pouco da sua própria curiosidade pelo mundo. Chegava a importar enciclopédias da Itália para satisfazer a voracidade do rebento pelos livros. Enviado ao grupo escolar das irmãs de São José, em Coronel Pilar, Itálico era um aluno normal – “interessado em história e geografia, péssimo em matemática, física e química”. Suas primeiras lembranças de sala de aula, aos cinco ou seis anos, são dominadas pelo vulto da jovem noviça Barberina, a primeira professora:

    – Me atraíam muito os grandes seios dela.

     Adolescente, Marcon foi enviado para estudar no Colégio Rosário, em Porto Alegre. Em pouco tempo, aproximou-se de escritores e intelectuais que considera seus mentores, como Mansueto Bernardi, Erico Verissimo e o irmão Elvo Clemente. Eles lhe apresentaram Herman Hesse, André Gide – “eu era eclético, me interessava a obra e não a ideologia” – e aquele que considera o maior poeta modernista do Rio Grande do Sul e cuja obra relançou em edição do Instituto Estadual do Livro: Tyrteu Rocha Vianna.

     – Levei 20 anos para encontrar sua obra, sobre a qual havia lido num ensaio de Tristão de Athayde. É jocoso, humorístico e cria palavras novas, lembrando Oswald de Andrade – afirma.

     Marcon seguiu lendo pela vida. Quando cursava direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), confessa ter faltado a aulas para ler. O hábito por vezes irritava a mulher, Mariza Marcon, com quem se casou em 1964. Seu acervo foi crescendo progressivamente – chegou a alcançar a impressionante marca de três livros por dia, em média. Sua biblioteca foi apontada em 1996 como a segunda maior do país, perdendo apenas para a do ex-ministro Delfim Netto. Hoje, a única filha, Márcia Kuhn Marcon, ocupa um dos três apartamentos reservados a sua biblioteca. O outro está vazio, e no terceiro vivem Itálico e Mariza, acometida por um acidente vascular cerebral em 2000, e a parcela remanescente de sua coleção.

     – A metade de mim foi dada – afirma Itálico sobre a doação ao Banco de Livros.

Fonte: LUIZ ANTÔNIO ARAUJO - jornal ZERO HORA

 

 

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