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O poeta se demite
Luiz de Miranda deixa a Academia Rio-Grandense de Letras, da qual era membro desde 1987
Já faz tempo que no meio literário em geral as desavenças são resolvidas com discrição e os elogios são distribuídos em público. Uma desinteligência recente entre um dos poetas mais prolíficos do Estado e uma instituição simbólica tradicional mas em dificuldades contrariou a escrita. Mais do que uma altercação entre homens de letras, a polêmica põe a nu questões mais prosaicas do iluminado meio literário, principalmente as dificuldades financeiras da opção pela palavra. O motivo apresentado pelo poeta Luiz de Miranda para sua saída da Academia Rio-Grandense de Letras na carta de renúncia que enviou à presidência da instituição foi a maneira como teria sido cobrado, em uma das reuniões semanais da casa, por estar inadimplente com a instituição.
O poeta Luiz de Miranda, 64 anos, anunciou publicamente na semana passada seu afastamento da Academia Rio-Grandense de Letras, da qual era membro desde 1987, após um desentendimento com o presidente da instituição, o também poeta Francisco Pereira Rodrigues, 96.
– Eu não tenho emprego fixo e vivo da minha poesia, então outros presidentes sempre me liberaram desse compromisso. Mas ele foi agressivo ao me cobrar, e eu resolvi me retirar para ser fiel à minha trajetória e à minha obra – afirma Luiz de Miranda.
A carta de desfiliação do poeta foi lida na última reunião da Academia, na quarta-feira passada, na presença dos nove acadêmicos que compareceram à sessão – entre eles o historiador Moacyr Flores e o ex-patrono da Feira do Livro Alcy Cheuiche (não é o único: Walter Galvani, Luiz Antônio de Assis Brasil e o atual patrono, Carlos Urbim, também são integrantes. O Frei Rovílio Costa também era).
Do lado da academia, também pesam dificuldades financeiras, já que a única receita da entidade é a contribuição que cada um dos 40 integrantes deve pagar. Decano da entidade, o presidente Francisco Pereira Rodrigues se disse surpreso com os motivos apresentados por Miranda.
– Eu mesmo havia indicado Miranda para me suceder na presidência, mas isso foi antes de saber que ele nunca pagou anuidades. Alguém que quer ser presidente tem de dar o exemplo, mas não fui agressivo, os senhores estão de prova – disse Rodrigues na reunião.
Amigos de Miranda, os acadêmicos Élvio Vargas e Cheuiche chegaram a propor uma conciliação, rejeitada pelo grupo. O desligamento de Miranda dominou a reunião, normalmente dedicada a discussões sobre a literatura no Estado e leituras de textos.
CARLOS ANDRÉ MOREIRA - JORNAL ZERO HORA