PORTUGUÊS E POESIA
OS CAMPEÕES DO ENADE
Dupla gaúcha brilha em exame
Uma é paulista de família gaúcha, tem 30 anos e é residente em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O outro tem 22 anos, é filho de um produtor de carvão e mora no interior da pequena Rolador, onde trabalha em uma cooperativa de grãos.
O que os dois compartilham é sonhar alto e ter razões para isso. Letícia Rossi Bueno e Jonas Roberto Mumbach de Melo fazem parte de um grupo seleto de 48 brasileiros que brilharam nos anos de 2007 e 2008 no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e por causa disso vão ganhar bolsas do governo federal para fazer sua pós-graduação. Para ter uma ideia da façanha, 382 mil alunos fizeram o Enade apenas em 2008.
Para receber o benefício, a dupla terá de ser aprovada em um curso de pós-graduação brasileiro. O valor mensal das bolsas é de R$ 1,2 mil no mestrado e R$ 1,8 mil no doutorado.
De Rolador para o mundo
Morador de uma comunidade no interior do município de Rolador, a 520 quilômetros de Porto Alegre, Jonas Roberto Mumbach de Melo, 22 anos, entrou na faculdade com apenas 16 anos. Fez o curso de Tecnologia em Agropecuária pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), no campus de São Luiz Gonzaga. Confessa que ainda não sabe o que vai fazer daqui para frente. O bom é que o futuro está acenando com boas opções.
– Quero ter destaque na minha área, fazer algo bom para mim e para a sociedade – disse ele.
Primogênito de três irmãos, filho de uma professora e de um produtor de carvão vegetal, desde pequeno Jonas foi acostumado a ajudar o pai cortando e queimando madeira. Mas nunca deixou os estudos de lado. Lembra que em uma determinada época estava com dificuldade de aprender inglês e resolveu entrar para um cursinho, incentivado pela família. Gostou tanto da experiência que resolveu se dedicar também ao espanhol e ao alemão. Tirou de letra todas as línguas.
Quando ficou sabendo do seu resultado no Enade e da bolsa, comemorou bastante. Ele revela que não teria como pagar um curso de pós-graduação. O salário que recebe com o trabalho na Coopatrigo, cooperativa de grãos em Rolador, não permitiria. Humilde, Jonas reconhece que se esforçou e que é bom naquilo que faz. Mas não esquece que, se chegou longe, também foi por causa dos ótimos mestres que cruzaram o seu caminho.
– Fiquei muito feliz com a notícia. É a consagração do esforço que tive para chegar até aqui e devo muito disso aos professores que eu tive.
Uma médica cosmopolita
A residente Letícia Rossi Bueno não para de encher a família de orgulho. Aos 30 anos, a paulista de nascimento coleciona ótimas colocações em concursos e notas altas na escola. Tira boas notas mesmo estudando somente na véspera das provas.
– Sempre frequentei boas escolas particulares. Acho que isso fez diferença – acredita ela.
Antes de ter recebido destaque no Enade, Letícia chegou a passar duas vezes no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na primeira, para Veterinária. Cursou dois anos até chegar à conclusão que seu negócio era lidar com pessoas. Voltou para os livros.
– Meu pai achava que era um crime largar a vaga na federal – lembra a jovem médica, achando graça.
Não demorou muito, Letícia estava desfilando de novo como bixo da UFRGS. Desta vez, no curso mais concorrido da instituição, a Medicina.
Ao lembrar da colocação no Enade de 2007, Letícia lembra da fase com carinho. Fez a prova ao mesmo tempo em que se preparava para outro desafio difícil para os recém-formados em Medicina: a prova da residência. Passou, é claro:
– Foi tudo junto, na mesma época, mas o resultado foi positivo. Fiquei bastante feliz e orgulhosa do meu desempenho.
Apaixonada pela área que escolheu, ela ainda não sabe exatamente o que vai fazer quando terminar a residência em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital de Clínicas, mas já está formulando um projeto de pesquisa para o mestrado. Deve fazer um estudo comparativo entre duas técnicas cirúrgicas em procedimento ginecológico.
Fonte: LÍVIA MEIMES para o jornal ZERO HORA