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PORTUGUÊS E POESIA

 

PUNHAL BRILHOU NO ESCURO

 

Paulo Sant’Ana – Zero Hora, 12/junho/2011

 

Quando dou opinião nesta coluna, corro o risco muito grande de vir a ser odiado e ofendido gravemente.

A maior ofensa que eu tinha recebido em toda a minha carreira de 40 anos na RBS, foi há mais de 30 anos.

A imprensa entrevistava o jogador Figueroa, de notável passagem no Internacional, quando um repórter perguntou a ele como encarava as críticas que Paulo Sant’Ana lhe fazia por atacar às vezes com cotovelaços os seus adversários dentro do campo.

Um lance característico do Figueroa era desferir cotovelaços nos atacantes quando levava desvantagem nas jogadas.

Na ocasião, eu tinha perdido a expressão facial por secção total do nervo facial. Meu rosto ficou horrendo, o olho esquerdo não fechava, a boca entortou para um lado, virei um Frankenstein, trauma estético que guardo ainda um pouco.

Mas, quando o Figueroa estava dando a entrevista, eu tinha voltado à televisão, embora minha paralisia facial ainda estivesse no auge.

Quando surgiu meu nome na entrevista e as críticas que lhe fazia, Figueroa respondeu por rádio, jornal e televisão: “Esses meus cotovelaços são coisa do Paulo Sant’Ana, mas, como todos sabem, recentemente Deus já se encarregou dele”.

Eu fiquei muito chocado. Até hoje, ao me lembrar do fato, sinto uma náusea existencial.

Mas acontece que agora, mais de 30 anos depois, uma ofensa mais grave que a do Figueroa acaba de me ser feita por um leitor.

Quando escrevi, na sexta-feira, minha opinião favorável à não extradição do ativista italiano Cesare Battisti, tive consciência de que a maioria da opinião pública era favorável à extradição.

Mas nunca pensei que iria encontrar por alguém uma reação tão desproporcional quanto a que um leitor teve para comigo.

Mas é muito propício que eu divulgue a reação do leitor para que todos calculem os riscos e os perigos que correm os jornalistas que opinam. É que muita gente acha que o ofício de opinar não contém desvantagem e não causa prejuízos a quem opina. Qual o quê!

Eis a resposta que chegou do leitor. Ela me queimou as mãos, fez arder meu corpo e meu espírito. Ei-la:

“Paulo Sant’Ana. É com uma tristeza muito grande que li sua coluna de hoje (10-6-2011). Uma pessoa que eu admirava, de repente passa a defender um marginal importado, como se já não bastassem os nossos. O teu câncer é mesmo devastador, pois já corroeu o teu cérebro. (ass.) Pedro Gilmar Rauber (gilmar.rauber@hotmail.com)”.

A violenta ofensa me doeu mais que as dores e os incômodos terríveis que tenho sentido com a radioterapia.

Mais nem posso nem devo dizer.

 

 

 

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