PORTUGUÊS E POESIA
Provocação, degradação e beleza em “As Flores do Mal” de Charles Baudelaire
por Diego Santos Fehlberg
Há em Baudelaire uma estratégia da linguagem que incorpora uma realidade apresentada como grotesca em relação ao sublime, comumente apresentado no romantismo, como uma espécie de provocação ao leitor. Sob estes aspectos podemos dizer que ele utiliza o horror sem esperanças e o desespero irrevogável para criar essa atmosfera de sublime sombrio. O próprio título da obra, As Flores do Mal, nos provoca e remete a esta relação, entre as flores como objeto sublime e o mal como quebra desta sublimação normalmente apresentada pelo romantismo.
“A unidade sintática, o ritmo grave e as figuras retóricas combinam-se para emprestar ao poema uma atmosfera de sublime sombrio, em perfeita consonância com o profundo desespero que expressa.” (AUERBACH, P. 84)
A abordagem de Baudelaire causa choque e estranhamento e estes recursos combinados contribuem para a criação desta atmosfera apresentada nos poemas de As Flores do Mal, onde a esperança parece inexistir. O autor faz este contraste entre a degradação e a beleza mantendo seu estilo misto que muitas vezes foi encarado por seus críticos como “inconsistência de estilo” (AUERBACH, P. 86).
Há em seus poemas uma provocação aos seus leitores, que os remete a pensar o elevado como rebaixado e também ao contrário. O baixo e o renegado, socialmente falando, como o sublime. Desta sua maneira de ser e sob sua abordagem literária originaram-se na França os poetas “malditos” e não é a toa que este poeta tenha marcado presença, influenciando a poesia internacional de tendência simbolista.
Exatamente esta abordagem que Baudelaire traz em seus poemas, suas flores do mal, onde apresentam a degradação e a beleza em convivência, construindo esta atmosfera que nos é apresentada como um sublime sombrio angustiante, que funciona como um convite a sua leitura, e é válida não somente por se tratar de um clássico, mas também por carregar consigo o sentimento e a visão de Charles Baudelaire.
REFERÊNCIAS:
AUERBACH, Eric. Mimesis. São Paulo: Perspectiva, 1994 [1929].
BAUDELAIRE, Charles. As Flores do Mal. São Paulo: Nova Fronteira, 1985.
Diego Santos Fehlberg é formado em Letras pela Faculdade de Formação de Professores e Especialistas de Educação - FAFOPEE - e é pós-graduado em literatura brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS -.