PORTUGUÊS E POESIA
“A jangada de pedra” de Saramago
*Diego Santos Fehlberg
A obra “A jangada de Pedra” de José Saramago trabalha intensamente a questão do nacionalismo, salientando de forma interessante e com tom de crítica as reações dos europeus em relação à península ibérica.
Yves Reuter nos diz em Introdução à análise do romance que: “O romance tira proveito de sua aptidão para apropriar-se dos novos valores ligados às mutações sociais.” E é deste aspecto que Saramago se apropria para escrever seu romance, utiliza-se de um momento em que Portugal está sendo anexado a União Européia para fazer sua crítica e marcar uma época de mudança em seu romance. Com isso faz uma crítica à maneira como Portugal e Espanha são tratados dentro da Europa, como se fossem países de “segunda linha” dentro do continente.
Ainda em Introdução à análise do romance de Reuter: “Aparece como gênero da liberdade, escapando à submissão as antigas regras permitindo uma inovação formal ou temática. A priori sem limites, pode falar tanto do individuo (toda a leitura do EU) quanto ao social. Pode ainda abarcar idéia de progresso por seu engajamento ou crítica social, pela produção de uma nova visão de mundo (...)”. Através de acontecimentos fantásticos protagonizados pelos personagens principais, Saramago inova em sua temática, quando a península se desprende e se joga em uma jornada pelo mar. Este romance trata do problema com uma intenção especial através dos seus acontecimentos e desenrolar, não importando se ele segue regras lógicas, porque não tratamos aqui da vida real e sim de um romance, por sinal muito bem elaborado, mas que não deixa de ser uma obra ficcional mesmo fazendo crítica a uma realidade que é o preconceito sofrido pelos povos da península e embora retratando o sentimento do autor, ainda é uma ficção. Todorov nos diz que a literatura não é um discurso que possa ou deva ser falso e que não faz sentido levantar essa questão. É sob este olhar que acredito que os romances devam ser lidos, porque a arte tem a opção de criar sua própria realidade.
Enfim, pode-se analisar esta obra, a simbologia de seus acontecimentos, o tempo psicológico, as conseqüências, como em qualquer romance, e deve-se levar em conta o engajamento na crítica e a visão de mundo do autor, mas não se deve exigir uma lógica em seus acontecimentos embora possa haver porque o romance não exige um tempo cronológico e sua lógica pode não existir.
*Diego Fehlberg é pós-graduado em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul -UFRGS