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PORTUGUÊS E POESIA

ERRO DE ORTOGRAFIA OU ERRO DE PORTUGUÊS

 

Muitas vezes, a escola dá mais destaque aos “erros” cometidos pelo aluno em detrimento de seus acertos, estando voltada ao ensino da gramática normativa; desvalorizando os aspectos culturais e lingüísticos trazidos por esse aluno. Aquilo que ele diz ou escreve que não está de acordo com as regras dessa gramática normativa é visto como “errado”, desse modo, acaba-se esquecendo que esse sujeito fala fluentemente sua língua, possuindo uma experiência de vida, um conhecimento de mundo.

A intenção é de que o aluno saiba a variedade padrão, mas também perceba que a variedade lingüística trazida por ele, a sua linguagem, possa ser adequada em contextos distintos. A variedade trazida pelo aluno deve ser valorizada e tomada como ponto de partida para a aquisição da variedade padrão. Uma forma de a escola manter esse contato com a norma padrão é através de diferentes gêneros de textos.

Essa diversidade textual deve ser utilizada para que os alunos percebam formas e linguagens diferentes, ajudando-os, dessa maneira, a adquirir a norma padrão e superar dificuldades de ortografia e concordância.

A gramática tradicional tem sua importância, mas acaba levando muitos a confundir o saber a língua com saber a ortografia oficial da língua. Segundo Marcos Bagno (2002), é comum vermos textos de alunos pintados de caneta vermelha, em que o professor deveria ler com atenção o que é produzido para captar as intenções de seu texto, as idéias que se quer comunicar, os conhecimentos de mundo que esse sujeito pode transmitir, para só depois aplicar as regras de ortografia oficial, adequando o texto a elas.

É importante destacar que o aluno, ao cometer desvios de ortografia, não está cometendo “erros de Português”. A ortografia é adquirida através de um exercício de memorização e treinamento, como defende Bagno (2002): “É uma competência que tem que ser aprendida, ao contrário de outras competências que são adquiridas naturalmente”.

Assim, é importante enfatizar essas questões, erro de ortografia não é erro de Português. E aquilo que o aluno produz reflete o que ele sabe, e isso, com certeza, deve ser valorizado.

 

(Deise de Oliveira Vedootto – professora de Língua Portuguesa)

 

Texto publicado no jornal Zero Hora em 12 de janeiro de 2008.

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