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CRÔNICA

 

Papéis invertidos

por Raquel Liane da Silva -  Pedagoga e Psicopedadoga Clínica

 

Não há novidade em dizer que as estruturas familiares estão se modificando. Não é de hoje que isto está acontecendo, há muitos anos outras configurações familiares tem se estabelecido: mãe, avó e crianças; pai e filho; casais sem filhos; casais em que ambos têm filhos de relacionamentos anteriores e também em comum... enfim, a família nuclear não é mais regra nem modelo de família na atualidade.

Entretanto, há algo que tem sido muito pontual nos pais e nas mais diferentes famílias: a dificuldade em lidar com seus filhos desde muito cedo. Há grande insegurança e instabilidade na forma de agir, muitos sentem-se completamente perdidos.

O que está acontecendo? Por que os pais estão com tanto receio de serem pais?

Entre todas as explicações que podem ser pensadas, há duas muito comuns: na primeira, esses pais tiveram uma educação repressora e não querem repeti-la com seu filho, o que muitas vezes acaba por ir para o outro lado da balança: a educação repressora é trocada por uma sem compromisso, sem cobranças, a seu ver “libertadora”. Numa segunda explicação, os pais julgam que passam muito pouco tempo com seus filhos, pois trabalham fora, e que não podem chamar sua atenção, exigir, fazer cobranças no pouco tempo que têm para compartilhar.

Ambas as explicações são compreensíveis, entretanto, os pais que procuram ajuda percebem que apesar de sua convicção, esses modelos de educação não têm ajudado junto a seus filhos. Pelo contrário: as crianças e adolescentes mostram-se mais difíceis, exigentes e teimosos; os pais, frustrados. Em muitos relatos há uma clara inversão de papéis: quem manda na casa são os filhos e não os pais.

Não raramente os pais não podem freqüentar um restaurante, por exemplo, porque o filho não pára, não podem comprar um determinado móvel para casa, porque o filho estraga, quando recebem visitas, se envergonham, não podem sair sozinhos, porque o filho chora... A vida do casal está limitada às vontades do filho e aí os pais sentem que algo não está certo, mas não entendem o que está acontecendo de errado.

Enfim, por mais que às vezes doa, pais precisam ser pais. Precisam saber ouvir seus filhos, mas também ponderar e dar a última palavra; precisam ser afetuosos, mas também firmes quando determinam algo; precisam ser amigos, mas precisam acima de tudo terem conduta de pais. Sua principal missão é apresentar o mundo ao filho, um mundo real, que o ajudará no futuro, e não um mundo imaginário, em que todas as coisas existem para servi-lo, pois este, com certeza, lhe trará mais angústias do que alegrias.

(fonte: Zero Hora)

 

 

 

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