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CRÔNICA

Crônica

O BATE-ESTACA DO CHEVETTÃO 75

     Dois entre cada três gaúchos, nessa época, só pensam numa coisa: ir para praia. Entretanto (e até para fazer justiça à argumentação de que toda unanimidade é burra), tem a turma que discorda: prefere a cidade, abafada e incandescente como o Senegal, mas com muitas vagas nos estacionamentos, ruas e avenidas espaçosas e poucas filas em todos os lugares que são insuportavelmente cheios entre março e dezembro.

     Esse grupo “fora de padrão” não curte areia no corpo, água fria e salgada, nordestão, frescobol, sunga, cheiro de protetor solar e a passagem daquele Chevettão 75 por 600 vezes na rua com um equipamento de som infinitamente mais caro que o carro, martelando um “bate-estaca” capaz de ser ouvido lá na Namíbia, sul da África, do outro lado do OceanoAtlântico em linha reta.

    Caro leitor, você já deve ter percebido que pertenço ao time B. Anti-litoral assumido, o que não significa ser um anti-social. Concordo que é bom ir para a praia na companhia de pessoas que se gosta, ler um bom livro, não assistir TV nem acessar a internet, manter o celular desligado, tomar chimarrão no fim da tarde e não ter muita ou nenhuma disciplina para comer, dormir e acordar. Além daquele carteado com cerveja e conversa fiada que atravessa a noite sem a gente perceber.

     As razões que me fazem um ser avesso à beira-mar são muitas: primeiro, a cor da pele _ demasiadamente branca _ e que não aceita um mínimo de exposição ao sol escaldante. A não ser que eu me besunte inteiro com protetor solar fator 500. Caso contrário, não preciso mais do que dez minutos para que todos saibam que sou colorado. Água fria, tô fora, embora as praias gaúchas estejam mais amenas nos últimos anos. Depois, tem aquela areiazinha que, soprada pelo nordestão, deixa o corpo à milanesa graças ao protetor solar. Outra coisa: nenhum esporte praticado com bola na beira da praia pode agradar a quem não esteja jogando. E a “santíssima trindade” pagode-axé-funk em volume máximo que brota de todos os alto-falantes possíveis e imagináveis por toda a orla. Seja nos bares, nas casas e, é claro, naquele Chevettão 75. Por fim, a aglomeração desorganizada de pessoas em todos os lugares, inclusive dentro da água. Fora dela, há filas em padarias, supermercados, açougues, postos de combustíveis, caixas eletrônicos, lojinhas de R$ 1,99 e nos barzinhos que antes eram aconchegantes e saudosistas e que agora se transformaram em verdadeiros “territórios de caça”, tratados no vocabulário “litoranês” como “points”.

     Para quem tem casa na praia, o sacrifício é ainda maior: conservar paredes, portas, janelas e utensílios domésticos na luta desumana contra a maresia e contra os arrombadores do inverno. E todo o final de semana, hospedar aquele batalhão de ‘veranistas-padrão’, formado por parentes, amigos, vizinhos, amigos dos vizinhos e parentes dos amigos dos vizinhos. Todos com cachorro, gato e filhos adolescentes (com pranchas de surf e que curtem o turbinado Chevettão 75). Não tem lugar na casa??? Sem problemas, a gente arma a barraca e o colchão inflável aqui no pátio mesmo, na graminha...

     Na volta, o requinte de crueldade: a free-way (free?????) pedagiada e engarrafada. Radiadores e miolos fervendo no asfalto e a tradicional imprudência arrogante da “turma do acostamento”. Dezenas (talvez centenas) de quilômetros em primeira e segunda marchas. Areia no tapete e no painel do carro. Na fila ao lado, o Chevettão 75 - também conhecido como Tubarão - com os vidros abertos expõe o dragão tatuado no braço do dono para o lado de fora e o impiedoso bate-estaca marcando o ritmo alucinante, acompanhado pelo movimento de vai-e-vem da cabeça do motorista, enquanto ele bebe um “capeta” numa latinha de Kaiser.

     Como diria a canção: “...é verão, bom sinal, já é tempo. De abrir/ o coração/ e sonhar...”

por Daniel Andriotti 

(Fonte: jornal Gazeta Centro-Sul)

 

 

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