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CRÔNICA

Complexo de guaipeca

   Gaúcho tem a obrigação de ser feliz nas férias. Sua felicidade é praia. Quem permanece em Porto Alegre e não consegue ir ao litoral se sente culpado diante dos filhos. Pede desculpa com o suspiro.

É diferente do carioca, que tem sua alegria parcelada dia a dia. Do nordestino, que comprou à vista o oásis. Do catarinense, cercado de ilhas para todos os poros.

Gaúcho depende do mar para se enxergar de folga. Seu problema é que não fica satisfeito porque não pode ostentar. Sofre do complexo do guaipeca. É como se nosso mar não desfrutasse de pedigree para expor aos amigos e faltassem curvas para confirmar sua sensualidade.

Inventamos de achar que Torres é a exceção de uma praia monótona, retilínea e sem exuberância.

Talvez seja o momento de terminar com a depressão turística. A realidade significa um ponto de partida, nunca o destino final.

O que é feio pode ser inteligente. O que não é formoso pode ser exótico.

A imaginação é uma virtude que forma o triunfo de qualquer banhista. Tem proporcionado benefícios incalculáveis para a resistência da personalidade gaudéria.

Imagina se aqui fosse Angra? Não daria certo.

Beleza demais me deixa preguiçoso, terei que exercer montanhismo, caminhadas pelos morros, descer dunas. É tanta coisa para olhar e fazer que acabarei não me molhando.

Água transparente não é uma maravilha, gera incômodo, lembrarei apenas que não cortei as unhas dos pés.

Nas praias achocolatadas do sul, posso perder a sunga e não serei preso por atentado violento ao pudor. A malha marinha demorou anos de erosão de conchas para atingir esse impagável vidro fumê, que conserva a privacidade do mergulho. Em Copacabana, uma bunda branca já seria manchete. Nossa praia é involuntariamente de nudismo e não causa escândalo.

É parar e pensar como o Nordestão vem sendo uma dádiva. Gerou a melhor arquitetura do guarda-sol do país. Ninguém coloca um guarda-sol como a gente. É fundo, firme, intransponível, existe uma técnica militar apuradíssima somente conhecida pelo exército otomano, capaz de enfrentar e amansar ventos automobilísticos. Diante de toda adversidade, ele não voa. Verifica se o mesmo vai acontecer em algum pacote pela Bahia? Nunca.

As crianças aprendem lições de trânsito ao natural. Carregam uma visão privilegiada das leis. Não serão atropeladas. Pelo método Piaget, as bandeiras explicam o funcionamento do semáforo.

Os salva-vidas não são broncos. Modelam castelos defronte de suas guaritas, para mostrar que a arte é uma espécie de socorro.

Os surfistas desencavam manobras e não dependem da altura para andar em tubos. São imbatíveis em campeonatos, íntimos das marolas, transformam o cochicho de espuma em maremoto.

O protetor solar recebe uma fina camada de areia que impede a entrada dos raios ultra-violeta. Temos muito menos risco de câncer.

Nosso repuxo é terapêutico, muito mais benéfico do que uma fisioterapia. As pernas aparecem torneadas de ir e voltar de um banho. Já observei jogador de futebol se recuperar de lesões sérias. Entra mancando e volta correndo.

Não abaixaremos a crista com a chuva. Com o alagamento repentino das ruas, experimentamos a chance de encenar Woodstock. Muita lama e liberdade, um contato direto com a natureza.

Dizem que Ronaldinho Gaúcho inventou o drible elástico em Cidreira fugindo dos esguichos dos carros.

Na ausência de programas, criamos passeios para analisar as residências alheias. A curiosidade nos permite ampliar os conhecimentos de decoração.

Não nos interessa unicamente a vista paradisíaca. O que vale é a interação com os vizinhos, reunir a família, reencontrar colegas. A areia torna-se um pretexto para intensificar o convívio e antecipar fofocas.

Como nossa praia não é linda de morrer, continuamos vivendo, graças a Deus.

FABRÍCIO CARPINEJAR - para Zero Hora
 
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