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CRÔNICA

 

Viagem intergalática em tempos de globalização

    A tecnologia de hoje nos permite, em algumas horas, estarmos num país distante em outro continente. Ao contrário das viagens de navios em séculos passados, que duravam penosos meses, traçamos milhares de quilômetros no mapa, como se fossem centímetros.

   Vamos para países de cultura totalmente diversa, cenários que nos parecem exóticos, pessoas com biotipo diferenciado do nosso, e, muitas vezes, com idioma que não dominamos.

   Essa experiência tive em 2005, ao conhecer em viagem de turismo, alguns países do leste europeu. O idioma inglês, que cumpre sua função de ser código oficial em tempos de globalização, me era básico. Senti na prática, o quão importante se torna o estudo de uma língua, mesmo que não a admiremos muito, que seja por gosto pessoal, que era meu caso, onde sempre preferi as latinas.

   Chegamos na República Tcheca. Meu marido me deixou por algumas horas. E lá estava eu sozinha, caminhando em Praga, capital daquele país. Só sabia que o som "né" significava: não. Me senti numa viagem intergalática. Um mundo totalmente estranho estava à minha disposição, embora não tivesse acesso total a ele.

   Com meu inglês básico do tipo "cat-dog", entrei numa loja que vende souvenirs. Fiquei tentando me lembrar como se faziam perguntas básicas: qual preço disso? "How much?" Será? Mas em tempos de globalização, me familiarizei instantaneamente. Um som de fundo tocava a música: Xica da Silva. Que maravilha! Estava no Brasil e não me dera conta disso?

   Arrisquei o inglês arroz com feijão, e ri ao perceber que o vendedor também comia do mesmo prato. Mas aquele pequeno fio que nos ligava estava escrito em inglês, alimentado por gestos e a mostra das notas de Coronna, moeda da República Tcheca, na tentativa do que nossos ancestrais faziam muito bem,  um escambo em terras de kafka.

   Saí da loja com alguns presentinhos e a certeza da importância do estudo de uma língua tão fundamental. Gestos, o fraco inglês, um sorriso aqui e ali, me poupariam de passar fome em solo estranho. Conseguiria até hotel, fazer compras, visitar museus, todos têm aparelhos auditivos de tradução;  mas não usufruiria de uma coisa importantíssima quando se faz uma viagem: o convívio, o trocar experiências, participar cultura.

  Mais adiante entrei em outra loja, agora de departamentos, próximo a Wenceslas Square, grande centro comercial. Constatei na maioria dos produtos à venda uma terrível coincidência, a etiqueta de procedência: Made in China.

   Tempos de globalização, pensei, devo incluir o Mandarim em meu repertório. Mas isso é para outra viagem intergalática.

 

Ana Cecília Romeu - Publicitária e escritora

http://anaceciliaromeu.blogspot.com

 

 

 

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