Entre os piores vícios de nossa cultura em geral, e de um modo particular a política, está o de ignorar o velho e sábio ensinamento de que é melhor prevenir do que remediar. Na educação, na saúde e na gerência da coisa pública, então, essa tendência mostra-se desastrosa, porque compromete, permanentemente, o futuro. A maioria dos que são colocados no poder, num voto também pouco consciente, não dá importância se as medidas demoram a dar resultado. Tudo aquilo que excede a visão de um mandato de quatro ou cinco anos, na ótica míope de alguns políticos, não gera dividendos, deleta-se. A prevenção sempre é menos ruidosa que a correção gerada pela imprevidência anterior, barulhenta e agitada, apesar de nunca apontar culpados porque "não se pode governar pelo retrovisor". Ou seja, evita-se até aprender com o erro.
O remendo tem mais valor. O caso da reserva de vagas para alunos de escolas públicas e universidades, pelo critério da cor ou raça, é bem sintomático. De um modo geral, os mais pobres, alguns com deficiências mentais decorrentes da má nutrição, independentemente do tom da pele, saem do Ensino Fundamental público com sérias limitações de aprendizado, pela péssima qualidade do aprendiz, bem como, em muitos casos, do Ensino Fundamental, de professores mal remunerados e até despreparados ou desmotivados. O que fez o gestor público? Como esses alunos com carências de aprendizado são muitos em termos quantitativos, nada como conquistar popularidade criando reservas para eles em cursos superiores. Em alguns casos, e são muitos, pode dar certo - o ser humano consegue se superar - e serão usados como acerto da medida. A solução mágica, entretanto, vai diplomar brasileiros em condições inferiores, na disputa de oportunidades de trabalho, com aqueles de formação básica mais sólida. Os demagogos dirão que isto é conseqüência da discriminação das elites.
Talvez surja dentro de pouco tempo uma nova "mágica" para superar esta questão prática: a obrigatoriedade de empresas e órgãos públicos reservarem vagas para cotistas. Cai a produtividade do setor privado, ou os governos serão os grandes absorvedores dessa mão-de-obra, piorando ainda mais seus serviços. O Brasil, a exemplo de seus planos econômicos heterodoxos, vai na contramão do que fizeram os países desenvolvidos e os que tiveram sucesso recente. Estes, como a Coréia do Sul e a China, encontravam-se em situação pior que a brasileira e seus excluídos passaram a desfrutar da prosperidade com forte investimento na saúde física e mental, criando oportunidades iguais, a partir da educação básica, o alicerce do conhecimento.
Aqui, a imprevidência foi praticada em toda a sua dimensão: indivíduos incapazes de absorver o conhecimento, por problemas físicos ou educacionais, serão um ônus permanente para a sociedade e alvos fáceis de demagogia. Com certeza, a prática enganosa do remendo não será mais necessária na hora em que o homem que existe apenas como ser biológico com limitações físicas e mentais, for substituído pelo cidadão em sua plenitude.
Espero sinceramente que um dia o brasileiro se constitua no principal objetivo da nação, e conseqüentemente sua maior riqueza.
Enquanto isso não acontecer, remenda-se por não ter prevenido.