CRÔNICA
Os pais são os culpados
por Sandra Telló – Professora, mestre em Teoria da Literatura
Na semana passada, o país assistiu atônito a uma tragédia que, pouco a pouco, foi se delineando diante de toda uma nação.
Um jovem de 22 anos perdeu a cabeça por amor. Revoltado por ter sido preterido pela namorada, deu-lhe um fim, diante de milhões de pessoas que acompanhavam o caso, através da mídia. Foi ele uma Medéia dos tempos modernos. Assim como ela, a personagem trágica, não aceitou ser traída por Jasão, seu marido, ele, Lindemberg, não aceitou o término do namoro.
Desde os tempos primordiais, amor e ódio, paixão e ciúme são as marcas registradas do humano. Em qualquer relação, esses sentimentos se misturam, ora de forma equilibrada, ora de modo explosivo. Somos assim: complicados, difíceis.
Esse paradoxo entre o tudo e o nada, entre o amar e o não amar, entre o apaixonar-se e o desapaixonar-se, sempre atormentou os corações humanos e a contemporaneidade coloca tudo isso em xeque, dando-lhe novos sentidos, novas possibilidades interpretativas, novas possibilidades existenciais. Desengessa o conceito, reveste-o de liberdade, mas cria outras formas de angústia, de desintegração e de prisão e a sociedade acaba tornando-se vítima desses novos conceitos e ainda surpreende-se com casos trágicos de amor, que são tão velhos quanto o próprio homem.
Hoje as famílias já não têm mais regras como as que haviam antigamente. Os adolescentes querem dizer aos pais como eles devem agir. Os amigos dos filhos vivem de modo diferente: mais soltos, mais livres e, assim, todos querem viver.
Os pais, por isso, desistem do pulso. Desistem de dizer não. Desistem de brigar. Soltam as rédeas, porque dessa forma é mais fácil. Eles próprios, muitas vezes, já não têm mais os princípios éticos e religiosos a lhes nortear os passos. Entregam-se, por conseguinte, às regras do mundo, da mídia, do senso comum, que se tornam porta-vozes da “verdade”.
Observe-se o caso a menina Eloá. Desde quando alguém, aos 15 anos, deve ser morta por um caso de amor? Culpa dos pais que permitiram que tivesse um namoro de gente grande aos 12. Nem aos 15 os adolescentes poderiam ter um namoro de adultos. Os pais parece que estão esquecendo que cabe a eles estabelecerem as regras e os limites do namoro. Quando eles, os filhos, não têm idade, não têm idade e pronto; ponto final. A liberdade nessas questões precisa ir sendo dada paulatinamente. A sexualidade precisa ser amplamente discutida e encarada com profunda responsabilidade. Permitir que um namoro se inicie aos 12 anos é, no mínimo, falta de responsabilidade dos progenitores.
O caso que chocou o Brasil, no sábado à noite, é um exemplo típico da falta de autoridade dos pais sobre os filhos. Todos culpam a polícia, mas, a televisão e a cobertura jornalística, dadas ao caso também contribuíram para o trágico desfecho.
A responsabilidade dos pais da moça e a dos pais do rapaz, entretanto, em nenhum momento foi questionada, embora seja ela a que deva ser acusada, porque é a que está no bojo de toda a situação.
Que pais foram aqueles que não souberam educar de modo adequado seus filhos? Que pais foram aqueles que não souberam interceder bem antes, durante a evolução do namoro? Que pais foram aqueles que não conseguiram se fazer ouvir?
Ele, cego de amor, se é que assim se pode chamar aquele sentimento egoísta, matou tal qual Medéia. Ela, sem defesa, se foi, em hora errada, em dia errado, por negligência de uma sociedade despreparada para enfrentar problemas dessa ordem, por negligência de uma sociedade que não soube e que não mais sabe estabelecer regras e limites para uma convivência harmoniosa, mas principalmente pela negligência de pais que não sabem como impor sua autoridade sobre os filhos.
(fonte: Zero Hora)
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