CRÔNICA
Marias-gasolina
Martha Medeiros
Você já deve ter visto este comercial de tevê: um cara bonitão, acompanhado da namorada, para seu carro no sinal vermelho. Ao lado, está parado um outro carro, bem mais bacana. Enquanto o sinal não abre, o homem do primeiro carro fica apreciando o design do carro vizinho. De repente, o vidro da janela desse outro carro se abre e quem está lá dentro? A namorada do primeiro homem, que saiu de fininho e transferiu seu amor para o dono do automóvel mais possante. E viva a frivolidade.
Nem sei a razão de tocar nesse assunto, porque certas coisas são culturais e não mudam: carro e mulher são indissociáveis. Nas corridas de Fórmula-1, é obrigatório gatonas de shortinhos circulando pelos boxes. Nas feiras de produtos automotores: mulher, mulher, mulher. E oficina mecânica sem pôster da Playboy não é digna de confiança.
Tenho um amigo em São Paulo que escreve umas crônicas maneiras para o site Itodas, o Eduardo Haak. Semana passada, ele falou sobre uma amiga que quase desmaiou quando um pretendente a namorado foi buscá-la de kombi. Reconheço, kombi, além de chinelagem, é risco de vida. Mas isso descredibiliza o candidato na hora?
A maioria da mulherada responderia: sim!!!
Admito que eu não ficaria nem um pouco extasiada em pegar carona numa lata-velha onde houvesse um monte de penduricalho no espelho retrovisor e um adesivo gigante dizendo “Jesus te ama”, mas isso está na categoria do bom ou mau gosto. Pode-se cometer esse tipo de atentado até numa Ferrari.
Óbvio que beleza e modernidade me cativam. Mas não me alienam. É muito provinciano escolher um homem pelo carro que ele tem. Na Europa, onde não há essa fissura automobilística que herdamos dos americanos, diversos ótimos partidos circulam de bicicleta e no transporte coletivo. Ah, mas em Paris é charmoso...
Não sei qual o meu problema, mas nunca atraí homens com bólidos espetaculares. Fazendo um distante flashback, me vejo andando de ônibus, de opala, de maverick, de pointer, todos em estado terminal, com falência múltipla dos órgãos. Em compensação, seus donos sobreviveram às suas charangas e hoje estão em melhor situação do que muito magal “veloz e furioso”.
Esta crônica não é para achincalhar os proprietários de cherokees e mitsubishis, era só o que faltava. Saúdo-os! Mas que sirva para alertar uma certa classe de mulher: não é o carro que faz o homem. Não que eu pouco me importe com o assunto: dirijo um simpático EcoSport que só me traz alegrias. Sendo dona de um carro que me satisfaz, o carro dos outros não precisa me servir de acessório. Eu sei quem eu sou. Não preciso provar meu status através de veículos alheios.
Infelizmente, estou falando para as paredes. As mulheres são radicais em relação a determinados assuntos. Mas pensem, garotas: vocês realmente gostariam de ser escolhidas pela grife das suas bolsas? Pela quantidade de consoantes dos seus sobrenomes?
Eu não lembro a marca do carro que é anunciado naquele comercial (mentira, lembro, mas não vou dar essa colher), só sei que aquela biscate não me representa. E espero sinceramente que a você também não.
(fonte Zero Hora)